30/09/2019

Cassino online no Twitter: um jogo perigoso?

Qual o poder da publicidade nas redes sociais? Será que existem idades mais afetadas por elas? Confira tudo aqui no blog!

Os cassinos tradicionais e os cassinos online são duas sensações no mundo das apostas (presenciais e virtuais). Enquanto estes são mais contemporâneos, aqueles têm longa trajetória em diversas sociedades.

Sempre adaptáveis às sociedades em que estão presentes, os estabelecimentos fazem publicidade e promoções de muitas maneiras. Porém, nem todas estão destinadas ao público alvo permitido. Neste artigo falaremos de situações que estão ocorrendo no Reino Unido nos últimos anos e que foram percebidas através de uma pesquisa.

Mais especificamente essa investigação percebeu movimentos considerados “irresponsáveis” por empresas que expuseram crianças à incentivos de apostas. Basicamente as empresas citadas tiveram o comportamento de omissão publicitária. Ou seja, os pesquisadores encontraram que essas empresas não fizeram o suficiente para parar a exposição de conteúdos publicitários. Em especial conteúdo de apostas nas redes sociais às menores de 13 anos.

Esse estudo veio à luz através de uma reportagem do jornal britânico The Guardian, assinada por Rob Davies. Nela estão apresentadas interessantes achados dos estudiosos, capitaneados por Ipsos Mori. Caso, por exemplo, como o que passou durante uma partida entre Rangers e Celtic, pelo campeonato escocês. No decorrer do jogo os investigadores viram, na internet, “banners” de publicidade de apostas que superaram o número de 920. Isso significa, a grosso modo, um a cada 10 segundos!

As empresas de apostas online têm vinculado marcas e publicidade irresponsáveis cuja negligência ao público infantil é notória, principalmente no Twitter. Mori e seus colabores encontraram que numa estimativa de 41 mil crianças abaixo dos 16 anos seguem perfis relativos às apostas. Ao mesmo tempo, ao menos 13 mil vezes essas crianças replicaram ou repassaram as informações das contas.

Essas informações mostraram a relação comercial que esses anúncios tiveram para as empresas de apostas. Isto porque entre os anos de 2015 – 2018 essas empresas cresceram suas estratégias para os anúncios desse tipo em 24%. Passaram a gastar mais de 300 milhões de libras por ano.

Ainda que as crianças não tivessem sido alvos diretos das propagandas, a pesquisa mostrou que algumas das publicidades incluíam estratégias apelativas a elas. Da mesma forma, enquanto vinculados os anúncios publicamente, pouco foi feito para excluir suas apelações.

E aqui temos um ponto importante. Mesmo sendo uma empresa privada que realiza as publicidades a seu favor, elas estão sendo visíveis num espaço de movimento público. Por isso a importância do controle das mensagens para gerar possíveis apostadores responsáveis, no caso dos adultos. No caso das crianças qualquer estratégia que pareça tendenciosa é perigosa.

A preocupação no Reino Unido não é pouca porque a pesquisa veio à tona alguns meses depois da divulgação de um número alarmante. Dados sugerem que houve um aumento de crianças problemáticas decorrente àqueles de apostadores. Os números batem a casa das 50 mil crianças, provavelmente resultando num “escândalo geracional”.

Após o escândalo, líderes dos cassinos online e bookmakers do Reino Unido prometeram investir mais em tratamentos para adictos. Também certificaram frear a vinculação de anúncios televisivos. Porém, na contramão das ações ditas pelos proprietários, os pesquisadores encontraram maior prevalência de propagandas de apostas nas redes sociais. Particularmente, como dissemos, no Twitter.

O MÉTODO DE PESQUISA

Os pesquisadores criaram 11 perfis falsos (avatares). Esses perfis falsos usaram identidades tais como “apostadores problemáticos” ou uma “criança abaixo dos 13 anos” baseando-se em históricos de navegação.

O estudo disse que “não existem evidencias” que os anunciantes tenham tomado medidas significantes para excluir as crianças e os apostadores adictos. Esses movimentos puderam ser vistos através dos históricos de navegação analisados.

Os cientistas também disseram que havia “pouca evidência” de mensagens aludidas ao jogo responsável sendo promovidas online, principalmente no Twitter. Os números são alarmantes. De 888,745 tweets analisados durante nove meses em 2018, apenas 7% continham mensagens para apostas responsáveis.

Os anúncios na TV ou online também continham elementos provavelmente apelativos para crianças porque traziam imagens de celebridades ou personagens de desenhos animados. Essas características se deram particularmente em anúncios de E-Sports.

Segundo o estudo:

[O] conteúdo no qual possivelmente apela às crianças e jovens foi encontrado em 11% dos principais avisos para apostadores nos meios”. E complementa que encontraram “em 59% dos conteúdos para apostas em E-Sports no Twitter”.

 

REPERCUSSÃO

Como era de se esperar, a repercussão foi imediata. De acordo com o Guardian, o líder trabalhista, o deputado Tom Watson se pronunciou. Ele disse que “isto [os resultados] não o surpreendem”. E continua, “visto que há tantas crianças apostadoras quanto empresas de apostas irresponsável que colocam anúncios apelativos às próprias crianças”.

A explosão de anúncios publicitários de apostas nos últimos anos está alimentando o problema dos apostadores problemáticos”, disse Watson. “Se nós quisermos derrubar o vício em apostas nós precisamos começar derrubando esses anúncios”, complementou o deputado.

A primeira parte da investigação divulgada diz respeito a uma longa pesquisa. Esta foi patrocinada por uma instituição de caridade líder em apostas no Reino Unido, a GambleAware. A parte final fará parte da projeção acerca dos impactos que os anúncios de apostas têm sobre as crianças.

Uma pessoa entre de idade entre os 16 e 17 anos disse que “sempre vamos conhecer a Ladbrokes. É como McDonalds, estará sempre ali”. A Ladbrokes é uma das maiores empresas de jogos presenciais e online do mercado britânico. 

Cassino online no Twitter: um jogo perigoso?